terça-feira, 28 de setembro de 2010

Deus

Deus, que é um conservador de extrema direita
Quando vai em reuniões do partido, esquece de regar o seu pequeno jardim
Seca o chão, morre o gado, lata d`agua na cabeça lá vai Maria
Sede, dor, fim da plantação.
Outras vezes, Deus, grande apreciador de esportes elitistas, vai jogar Squash
Antes, corre pra regar seu pequeno jardim
Dessa vez, displicente, esquece aberta a torneira
Cheia, inundação, morre o gado, fim da plantação, descem os morros, quebram os muros.
Quando tomado pelo tédio, Deus senta-se numa confortável poltrona de nuvem...
Nesses dias, geralmente no inverno, o nevoeiro vem antes da chuva fina
Um vento gelado varre as folhas secas pela rua
Nesses dias Deus se redime
Embaçam-se vidros de carro, onde dedinhos desenham corações e juras de amor
Dentro das janelas de luzes acesas, pés juntinhos disputam espaço no edredom
Um cheiro de café invade as varandas.
Deus deveria se apaixonar mais.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Sem titulo

Me adestra então...
Tira de mim esse vocabulário sujo
Conserta minha postura
Me proíbe o bar
As más companhias
Salva também eles de mim...
Conserta esse boêmio
Mas leva junto essa dor
E esse medo da vida
E prometa abrir a janela
Me conserta
Me adestra então...
Só não me peça pra te mastigar de boca fechada.

domingo, 12 de setembro de 2010

Falta

Naquela tarde sentaram -se os dois
Hesitaram por um momento
Contemplaram o céu
Suspiraram...
A velha cadeira, um cigarro
O tapete e a falta.
Falta o cheiro de feijão
O barulho da panela
A conversa boa
Falta o rádio de pilha no programa evangélico
Ambos sentem falta e o vazio da falta de ter
O cão sente a falta do carinho
Da vasilha quase cheia
Agora vazia
O velho sente falta dos sentidos
Qual o sentido de uma bela tarde de sol?
Falta de quem o lembre de levar o casaco
E do troco certo
Do preço das coisas
Das coisas no lugar...
Anseiam ambos pelo tempo
Odeiam a noite e o armário de roupas
A cama fria de madrugada
Sentem a falta da presença feminina da casa
A "dona" se foi...
Pra sempre.

sábado, 4 de setembro de 2010

Teletragédia

Nas tardes de sábado, o mundo é vitima de crateras, vulcões e cometas.
Nas noites de domingo, os poucos sobreviventes se explodem com armas e granadas.