sexta-feira, 26 de agosto de 2016



Convicções e ideologias são lotes vazios, desertos. Cercados por uma linha imaginária que delimita seus limites. Por tempos, manteve-se sob suas cercanias, sob a amplitude de seus lotes, dela mesma. Até que, por acaso, azar, sorte ou vontade própria, avançou a linha tênue que os dividia. Se viu em terreno áspero, hostil. Se viu, num lugar que pertencia à outra pessoa. Um lugar onde ela não cabia.
No escuro, no desconhecido, tateou nas frestas das paredes, procurando por alguma razão. Procurando por algum sentido. Procurando por algo que pudesse sentir. Em vão.

quinta-feira, 4 de agosto de 2016

This Concludes Our Broadcast Day





Eu sei. Eu sei que assim como eu, vocês esperavam por uma nova temporada. Mas tudo tem um fim. E as transmissões, cedo ou tarde, precisavam ser encerradas. Foi maravilhoso estar aqui com vocês. Eu ainda consigo sentir aquele frio na barriga, toda vez que o sinal de “estamos no ar” acendia e ela aparecia no portão. Então eu podia ouvir os aplausos, as saudações. Cada episódio valeu a pena. Eu não consigo destacar um. Mesmo que alguns deles, tenha feito alguns de vocês (e eu mesmo) chorar. Romance, amor, tristeza, dor, raiva, redenção, perdão, cumplicidade. Foi um roteiro bem variado.

Quando o amor deixa de existir, não existe razão em continuar, é como dizem na propaganda. Por isso, a história se encerra aqui. As luzes se apagam e o cenário é desmontado. Mas, vocês ainda podem acompanhar os protagonistas, pois estes continuam. Vocês ainda podem torcer por eles. Eles continuam em outras estações, em outras frequências, em outros canais, em outras canções e corações. Eles continuam. E sempre que vocês sentirem falta deles juntos, usem o videotape de suas memórias e relembrem cada episódio. Eu vou lembrar. Vou rir, chorar e me emocionar a cada lembrança, no videotape da minha memória. Eu nunca vou esquecer.

Quem sabe, num especial de fim de ano, daqui alguns muitos anos, nossos protagonistas não se reencontram em um único show? Para uma foto, um beijo na testa, um aceno rápido? 

Já é tarde queridos, não se esqueçam de escovar os dentes antes de dormir. Por hoje, e pra sempre, é só....

terça-feira, 3 de maio de 2016

desci a rua Augusta a 90 por hora
não estava devagar, mas também não tinha pressa.
ai, ai, Johnny. ai, ai, Alfredo
o que eu mais sinto nessa vida é medo.
eu precisava me curar
tinha uma ferida aberta.
eu tinha pressa em me curar
cicatrizar, pra poder abrir o talho de novo.
é um corte que nunca fecha
não fugia de ninguém, a 90 por hora.
tinha a pior companhia possível: eu mesmo
Falando no meu ouvido: “acelera, cagão!”.
existe um novembro no final do quarteirão
talvez eu o evite pela contramão.

domingo, 17 de abril de 2016

Flerte



Eu flerto e forço, a barreira, à força.
Eu flerto, comigo, há tempos esquecido, por mim
Eu flerto com a mesa, a cadeira e o copo
Eu flerto, com a tela, as linhas e as cores
Eu flerto com a vontade e as novas possibilidades