terça-feira, 11 de maio de 2010

Quando eu me for

Quando eu for número numa prancheta,
roupa de domingo e buraco no chão.
O que vai ficar de mim, na memória rala,
dos ralos companheiros, serão algumas piadas requentadas
e poucas ironias baratas.
O que nunca foi dito, ou até dito propositalmente baixo
para que nunca fosse escutado, o que eu carrego nesse peito trancado,
será farto banquete para verme branco e esfomeado.

Aos sem mãe.

Aos encarcerados, políticos e trapaceiros.

Não saíram do chão ou vieram de “Oz”, nem foram entregues por cegonha ou Sedex.
Tiveram sim, progenitora e foram concebidos no particular, no SUS ou por parteira.

Aos árbitros de futebol, atendentes de cartão de crédito e contraventores.

Gozaram até certo momento de leito fresco e terno, colo quente e voz suave de mãe.

Aos egoístas, estúpidos e embriagados.

Não joguem nas costas do mundo a tristeza e a dor de terem perdido o mimo.
Não aborreçam as famílias felizes do mundo com seus berreiros e estripulias de garotos
Chorões.

Aos advogados, sentenciados e juízes

Joguem fora o argumento típico e funcional sempre utilizado para defender os marginais chorões. “Meritíssimo, entenda, meu cliente é um rapaz atormentado, o coitado não tem mãe! Nunca na vida teve o prazer de fazer trabalhinhos escolares utilizando feijão. Nem nunca tirou foto com o cabelo repartido ridiculamente de lado para presentear a mesma no dia das mães”.

Aos pastores, banqueiros e traficantes.

Vingam-se dos que ainda tem a dona do lar, e fazem os iludidos e viciados retirarem tostões furados de bolsos ainda mais magros.

Aos escorpianos, ciumentos e mal-humorados.

Pratiquem o amor! Deixem esse rancor e mágoa de quem não tem onde passar o domingo. Sugiro que adotem uma mãe. Mesmo que seja uma imagem de mãe. Uma mãe “Casas Bahia”, aquela senhora confiável que aparece na TV com ofertas e pagamento a perder de vista.

Aos canibais, psicopatas e esquizofrênicos.

Procuram em cada vitima e cada coluna de parede a imagem da progenitora, o cheiro e o gosto dela. Queriam vocês mesmos, ser suas próprias mães.

Aos mentirosos, solitários e vendedores de seguro.

A esses, que figuram na classe mais amena dos “sem mãe”, a opção é comprarem porta-retratos de lojas de magazine. Escolham aqueles que têm a foto de mãe já acompanhada de netos e quando aquela atípica visita aparecer e perguntar quem é aquela simpática senhora, dirão então, com lágrimas nos olhos: “É minha mãe”.