sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Você, Chico, eu e Maria



Eu era um milhão de pedacinhos jogados pelo chão, eu era um desses quebra-cabeças baratos de peças de papel, vagabundo e difícil de montar. Fiquei assim depois que você se foi, com a desculpa que acabou o amor, que era melhor assim. Enquanto eu tentava me montar pensava no real motivo de nossa separação. Por estar com o pensamento em outro lugar e por ser difícil me recompor, me montar, várias vezes coloquei a perna no lugar do braço e o fígado no lugar do coração. O pior é que quando eu ia à padaria desse jeito, as crianças choravam e velhas evangélicas me repreendiam. Eu estava um lixo!
Certo domingo de sol eu estava sentado na praça com o pensamento longe, certamente em você, quando alguém se sentou do meu lado. Era um amigo, um colega, conhecido, alguém que você vê uma vez na vida na casa de alguém, outra vez na morte, na casa de outrem. Claro que ele não trazia boas noticias, me disse que ficou sabendo por intermédio de uma ex-amiga da irmã de um conhecido, que você era vista por ai acompanhada de um tal de “Chico” e que era muito comum vê-los caminhando naquela mesma praça, sempre no final da tarde. Esse meu “amigo” disse que só havia me contado o fato pois tem um grande apreço por mim e que todos comentavam o quanto eu estava mal com sua partida. Agradeci e decidi ficar ali pela praça, pois mesmo que eu quisesse muito ir embora, eu precisava muito ficar!
Eu sabia que não estava preparado pra te ver com outra pessoa, principalmente naquele dia, pois a combinação de vinho barato, Best of do Cat Estevens e outro homem em teus braços poderiam ser letais! Porém, eu não tinha mais nada a perder e queria ver quem era o tal sujeito. Quando o sol estava indo embora eu os avistei ao longe, caminhando calmamente os dois, perna esquerda juntos, perna direita juntos, numa sintonia invejável. Eu já era o pior dos seres humanos naquela hora, queria que a terra me engolisse inteiro, sofrer autocombustão, ser atingido por um meteoro, sumir! Nada parecia ser pior do que aquilo. Quando, olhando mais atentamente me dei conta de que não se tratava de qualquer “Chico”, não era o Chico da padaria ou o barbeiro Chico, era aquele que tinha um violão, belos olhos verdes e que já tinha comido todo mundo daquela rua, se tratava de Chico Buarque de Hollanda! Segurei meus pedaços e corri pra casa, passei pela porta, fechei-a, desmontei de novo.
Embora não acredite muito nesse lance de signo, dizem que o escorpiano tem um poder sobrenatural de se reinventar, de ressurgir mais forte de tamanha catástrofe, me apeguei nisso enquanto colocava uma orelha no lugar do nariz. “Assim como não há bem que dure, não há mal que perdure”; ”o tempo é o senhor da razão!”; “o castigo vem a cavalo”; “ a vingança é um prato que deve ser servido frio”; “chicotim queimado é muito bom, quem olhar pra trás, leva um beliscão”. Eu já tinha planejado uma vingança e já tinha me remontado da maneira certa, faltando um baço ou um siso, nada que fosse fazer muita falta. E embora eu tenha que aturar um cunhado chato e ter que fingir ter dor de cabeça toda noite, nenhum dinheiro no mundo poderia pagar a cara que você fez quando me viu tomando um chopp com a Maria Bethânia na mesma praça onde te vi com o tal do “Chico” que, diga-se de passagem, já estava comendo por outras freguesias.

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Amor, sexo e outras bobagens



Conheço todos os atalhos do teu corpo
Mas ainda percorro cada pedaço
Eu morreria de saudades da tua nuca
Se não a visitasse um único dia.
"Sexo" é carnal demais
"Fazer amor" muito brega
Ficamos no exato meio-termo disso
O meridiano de Greenwich de amor e sacanagem
Sou um pedaço de carne sobre a mesa
Carne recheada do mais puro afeto
Afeto e respeito de um devoto.
Eu analizo o teu corpo como um fiscal
Fiscal de agência reguladora
Sem nunca parecer burocrático!
Pois isso tudo é muito perigoso
Defino como: Estratosférico, cósmico, religioso.
E faz minha língua sentir todo tipo de gosto
Salgado, doce, jeans, botão
Entre saladas de beijos e cheiros
Sou um velho menino na tua mão.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Damien Thorn



Quando saiu do berçário
A música ja dava medo.
Mau desde moleque
Colou no cabelo da babá, chiclete
Ruim desde banguela
Era imune a salmonella
Tinha jogado a mãe pela janela.
Preferia um cão
Mas teve um corvo como animal de estimação.
Notou em si essas particularidades
Porém, julgou ser coisa da idade.
Certo dia, no espelho do banheiro
Teve confirmado, seu medo
Abrindo suas mechas entre o dedo
Tornou-se real a crendiçe
Algo, que nenhum barbeiro lhe disse.
Carregava a sina
A marca, o mal
Tinha na fronte, o número do chacal.
"Porque?" Perguntou
"Porque carrego tal fardo?"
"Existem piores na câmara, no senado".
Resignado do número místico
Fez o que era necessário
Tornou-se politico.
Fez valer a vida imposta
Vida sinistra
Largou o grupo de jovens
Da igreja metodista.

sábado, 22 de outubro de 2011

Oskar e Eli



Obrigado, por não me sugar
Por não me condenar.
Te sigo por ideologia
Por religião
Por amor à causa
Por toda falta de amor.
Me torno intimo da noite
De tua companhia.
Teus olhos negros
Me provém aconchego, alegria
Tocar teus cabelos, tua pele fria.
Prometo em meu nome
Que nunca passarás fome
Dos outros terá o sangue
De mim...
Minha mão
Baço, rins, alma, coração.
Porque renego a liberdade
Renego a solidão
Faço tua, minha oração.
Até o dia, em que teu adeus me encontrará
De pé, pelo portão.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Peça, persa


É tarde e eu cedo
Madrugada, cedo!
Cedo a seus caprichos
Mimos e miados.
Perdão, se te peguei forte pela goela
Perdão, se ameacei te jogar pela janela
Teus belos olhos te mantêm lisa e ilesa
Pois não há nada que você me peça, persa
Que eu não faça.
Mimos e miados caros
Tu que não anda pelos telhados
Nem me arranha os sapatos
Penso as vezes, que não me ama
É incapaz de deitar ao meu lado
Fica sempre por ai, aos pés da cama
Olhos caidos
Cara de bocó
Com esses pelos cheios de nó.

domingo, 25 de setembro de 2011

Deus te conserve, uma lata de conserva.



"Olha...agora que já estou aqui, não vou desistir não!
Não sou como essas outras ai, digo...não que elas sejam ruins não.
Mas eu sempre fui diferente, acho que mereço isso mais do que ninguém.
Sempre corri atrás do meu, só. Se machuquei alguém pelo caminho, se menti um pouco, fui sonsa, me vendi e trai...isso acontece poxa, desculpa;
Acho que nesse jogo é assim mesmo, cada um vê o seu, né?
Tem que olhar pra frente sempre, o que passou, passou. Se alguém ficou pelo caminho, paciência, é sinal que não tem a mesma capacidade que eu tenho. Egoísta? Eu? Nada disso! Sempre ajudei na medida do possível.
Mas também não ia me fuder pelos outros né? Opa, desculpa o palavrão.
Mas é isso, não vejo a hora de sair daqui! Ai,ai....Deus vai me ajudar, vocês vão ver!"

Reclamava a latinha de conserva, numa prateleira empoeirada, num mercado de subúrbio. A latinha embora quase inchada e com a data de validade no limite, passaria por cima de qualquer um pra conseguir seu objetivo, que ela nem sabia ao certo qual era.

domingo, 18 de setembro de 2011

Guerreiros



Desceram as escadas a mil
Pararam sob a sombra...
E observaram.
Uma luta de dois é uma luta justa
Desembainharam a espada e travaram uma
Luta sangrenta contra os opressores do rei.
A lua cintilava no céu enquanto o ressoar do aço
Quebrava o silencio da noite.
Guerra de luz contra sombras.
Armaduras douradas representando o reino dos justos
Contra a sombra negra dos
Apocalípticos cavaleiros fantasmas.
A luta poderia durar dias, semanas...
Durou quinze minutos;
A mãe chamou os dois pra dentro...
Era hora do jantar e do dever de casa.
Guardaram as espadas (de pau) na varanda
Ao lado da bicicleta (ainda com rodinhas)
E entraram...
A luta continuaria pela manhã
Depois do café e antes da escola!

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Bailarina



Noite de sábado, teatro cheio
Ternos engomados e belos vestidos
Lugares marcados
"Engole logo essa pipoca, desliga o celular"
"Rápido, silêncio, vai começar!"
Diminuem-se as luzes
Orquestra a tocar
Entra a bailarina
Linda, na ponta dos pés
Um giro pra cá, e agora, ao revés
Bailarina vem pulando
Bailarina vem gingando
Bailarina vem dançando
Bailarina vem balançando
E o público, bocejando...
Então, num erro primário...
Bailarina vem tropeçando
Bailarina vem cambaleando
Bailarina vem capotando
Bailarina vem derrubando, tudo que tem pela frente
E o público gargalhando...
Então, depois de tantos "andos" e "desandos"
A pobre bailarina nunca mais calçou as sapatilhas.

domingo, 4 de setembro de 2011

A culpa é do cigano


O comercial do novo Fiat Cinquecento traz Ricardo Macchi ao lado de Dustin Hoffman e o seguinte slogan: “Para ser um atorzão, não precisa ser grande”. A brincadeira reside no fato do baixinho e narigudo Hoffman ser imensamente superior ao Macchi. Talvez as novas gerações não entendam de fato a grande ironia. Em 1995 a novela Explode Coração foi alvo de muitas críticas dos brasileiros. O roteiro de Glória Perez trazia o cigano Igor (Macchi) num dos papéis principais.E o cara era tão ruim, mas tão ruim, que mesmo eu, que ainda era moleque e com meu senso crítico que até então só me permitia analisar e julgar os roteiros e atores do seriado Jaspion, me perguntei: -Onde diabos arrumaram esse cara?
Ricardo não possuía nenhum carisma, dizia seus textos como quem compra pão na padaria e parece ser da mesma escola de atores que o Steven Seagal. Aliás, será que estão usando os piores atores de seus respectivos países nessa campanha? O Van Damme na Bélgica e o Ben Affleck nos EUA? Seria interessante.
Nunca antes na história desse pais, um ator de novela das oito foi tão crucificado. O país parou e era engraçado/trágico ver como o sujeito se esforçava a cada capitulo. Depois do fim da novela o rapaz sumiu, passou um tempo no Alasca, visitou o triângulo das bermudas e morou em Marte durante um tempo. O que ele fez de mais interessante nesses anos, foi namorar a Ellen Roche. Antes do comercial eu o vi num programa de TV. Ao ser questionado sobre o porque de seu personagem ser tão injustiçado Macchi respondeu:
-O povo brasileiro vivia um momento muito ruim na economia, o Brasil ia mal...
Me lembro que ri bastante do absurdo dito, porém hoje, dou total razão ao cigano. Vi numa pesquisa que o brasileiro considera real o que acontece na novela e irreal o que assiste nos noticiários. É comum lermos que certo ator foi ameaçado na rua por interpretar um mau sujeito, por ter atrapalhado o romance da pobre menina e seu patrão. O povo acredita realmente no que assiste nas novelas. Se algum politico fraudou o INSS e prejudicou alguns aposentados, ninguém reclama. Desviaram dinheiro da merenda em algum município do nordeste, as crianças só comem biscoito e salsicha, ninguém ouviu falar. O Brasil é uma espécie de Twlight Zone do mundo, algumas coisas só aparecem aqui, só somem aqui e acontecem aqui...e o povo não tá nem ai. Uma deputada foi recentemente absolvida de um crime na qual foi filmada recebendo propina, alguém sabe o nome dela? E quem matou a Norma? Você sabe?

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

É de estimação



Essa vontade de rasgar o peito
Me acompanha desde cedo
É dor que não leva nome não
Justamente por não ter definição.
Crescemos juntos
Já que ela, me acompanha desde criança
E hoje, tem o dobro do meu tamanho.
A minha dor, é de estimação
E não a mordaço
Nem a censuro
Encaro de frente
Em cada "tic-tac" do relógio
Em cada dia que me arrasto.
A minha dor...
Teimosa dor...
É de estimação
Vez ou outra tem fome
E grita dentro de mim
Me devora sem que eu proteste.
Come, de cinco em cinco minutos
Um pedaço de mim.

domingo, 21 de agosto de 2011

Chinelos



Quando eu abro os olhos, encaro um teto feio de tijolos. É cedo, tão cedo, que até os fornos das padarias dormem. Apoio o dedo sobre o despertador e num movimento mecânico, o calo antes que ele desperte. Minha senhora se vira pra mim, também num movimento mecânico e numa mistura de amor e rotina, me beija a testa. De volta ao seu travesseiro ela tenta recolher vestígios de algum sonho bom.
Enquanto me arrumo, a chaleira geme baixinho, requentando um café de ontem. Ele desce como lava, num estômago apressado e mal-jantado. Pego mochila, cigarros, marmita, palavra-cruzadas e saio.
Sobre a soleira da porta, ao lado de meu sapato triste e gasto, um chinelinho rosa me pede um afago. Retorno e entro no quarto da menina. Me sento devagar em sua cama e a observo dormir. Meu carinho bruto, numa mão pesada de massa a acorda assustada.

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Só os egoistas se apaixonam


Indiferente a tudo o que é dito perto da lousa, João observa Bianca pelo canto do olho.
João é um adorador de ruídos em altos decibéis (algo que ele chama de musica) e além de sua paixão por Bianca, também é apaixonado por carros. Sempre em seus devaneios ele imagina como seria ter a moça ao seu lado. Fantasia a felicidade de Bianca ao estar com ele dentro do seu carro, de ouvir musica muito alta e ainda tentar conversar! Falar sobre tamanho de rodas e descobrirem juntos a melhor cera para polimento...
Bianca, atenta a tudo o que diz o professor, tem pouco tempo para pensar em Augusto. Pouco é o tempo que ela compartilha com ele, apenas no ponto do ônibus, pela manhã.
Augusto (a quem Bianca chama em seus sonhos de Carlos, pois ainda não sabe seu nome) é sério, e sempre de fones no ouvido. "Deve ser algum curso de inglês o que ele ouve ali, ouvi dizer que é um ótimo método" pensa a jovem sonhadora ao observar Augusto. Bianca já consegue enxergar os dois juntos na biblioteca discutindo filosofia. Cada um com seu pensador preferido. Entre uma discussão e outra, ela deita a cabeça no ombro do rapaz...
Augusto, que pega o mesmo ônibus que Bianca todas as manhãs, trabalha numa fábrica e ouve heavy metal, sempre a mesma banda. Sua música foi apelidada no trabalho de "bate-estaca". Augusto é trabalhador e sério. Adora a hora do almoço, quando se senta de frente para Sheila e timidamente observa seu belo corpo. Os cabelos, as coxas, tudo. Ele imagina o que ela veste por baixo daquela roupa bem comportada. "Uma calcinha minúscula" é tudo o que ele pensa. Sheila, na verdade é adepta da cueca "samba-canção".
Eu, te imagino chegando na minha varanda, com teu passo leve e cabelos soltos. Traz numa das mãos uma garrafa de café bem doce e na outra mão poemas de Quintana. Deitas no meu colo e enquanto eu mexo nos teus cabelos, você me diz, o quanto gosta dessas idiotices que eu escrevo.

Só os egoístas se apaixonam...

sábado, 6 de agosto de 2011

Designação



Era medo da danação?
Era designação?
Era a falta do pão?
Era uma biblia na mão?

Quando perdeu o emprego
Chico viu-se em aflição
Fitou o moleque no berço
Faltou-lhe o chão

Era medo da danação
Coisa superior
Era designação
Simples homem do interior

Numa garagem empoeirada
Viu a cura do ócio
Propagar a palavra
Começar próspero negócio

Pequeno amplificador
Boca no microfone
palavra contra a dor
Resposta para a fome

Bater ponto é ultrapassado
Gritar o nome de Emanuel
Abraçar o irmão ao lado
Garantir o aluguel

Desempenhar multi-funções
Limpar letreiro
Decorar algumas orações
Desconfiar do tesoureiro

Chico é homem mudado
Anda pensando em televisão
Usa terno caro
Vem na próxima eleição

Era designação?
Era medo da danação?
Era falta de pão?
Nada...
Era falta de imaginação.

sábado, 30 de julho de 2011

A superficie do poço


Esse reflexo da moça
Na superficie da poça
Olhos rasos
Mãos finas
Cabelos ralos
É vento que não apaga fogo, moça
É brasa que não esquenta
Passo leve
Sem pegadas
Sem marca
Ou cicatriz
É uma leve torcida de nariz
Dar de ombros
Largar de mão
A moça é trampolim à dois palmos do chão
Linha reta em pulsar de coração
O amor dela vai pra sempre em mim
Como tatuagem de chiclete
Mato sem jardim
A saudade é um lembrete em porta de geladeira
Sua cura em dez gotas de dipirona
Pois saiba, moça
Que cheguei ao meu limite
Ando cansado, embora moço
Cheguei eu
Na superficie do poço.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Choro pop





Me sento de frente pra rua, observo o movimento dos carros, das pernas apressadas. Aqui nenhuma pressa, só um “pingar”, um gotejamento na alma esperando calmamente a hora de transbordar. É relativamente cedo, o sol ainda não foi embora e o apresentador de todas as desgraças alheias ainda não deu as caras pela TV. Dizem que a dor dos outros ameniza um pouco a nossa própria dor, então peço uma cerveja e me dirijo a uma máquina calada nos fundos do bar. Ela me olha como se me conhecesse de longa data. Enfio uma nota pela boca dela e em sua tela aparecem tantas opções de choros e tristezas, tantos cortes de cabelo diferentes e roupas cafonas, fora de moda a milênios, queria eu, que a vida tivesse me dado metade das opções que a máquina me dá.
Estão lá: Richie, John, Bob, Johnny, Robert, Rod e tantos outros. Eu os conheço, eles nunca ouviram falar de mim. Aperto a cara de Joe Lynn e peço que compartilhe um pouco de sua dor comigo, nunca tive a pretensão de que ele ouvisse a minha, ele fala demais e quase não deixa um espaço pro sintetizador aparecer, porém possui bela voz. De volta a minha mesa, esqueço um pouco meus problemas e tento imaginar o que aflige o meu amigo dentro da caixa de som. Será que ele já superou essa dor? Ele finalmente se casou com Caroline e vive numa bela casa de madeira, tem quatro filhos e honra com sua hipoteca? Há vinte anos ele sofre pela mesma garota, cresce rapaz! Eu até entendo que deva ser difícil, um dia tocar pra grandes estádios e hoje ter que viver dentro de uma maquininha. Você não vive de royalties? Mesmo só tendo um sucesso, imagino que deu pra ganhar algum dinheiro, não? Você reclama de barriga cheia! Vive de Royalties, queria ver se fosse como eu, e tivesse que se virar com o seguro desemprego, seis meses passam rápido, sabia?
Seu, seu chato! Você tá por cima, na américa de cima! Você deveria se envergonhar de mendigar o dinheiro de um pobre sul-americano, seu capitalista de merda! Tô começando a odiar você, seu corno!

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Minha Religião




Te amo, e te amo tanto
Que te amaria sendo você o que fosse
Se tu fosses uma dessas crentes fanáticas
De saião no pé e cheia de fé
Ainda assim, te amaria.
E se meu ateísmo convicto fosse pra ti, um problema
Eu aceitaria então, vestir terno, gravata e bíblia
Andaria por ai, de vigília em vigília
Teu "aleluia" me arrepiaria os cabelos da nuca!
Eu viveria da fé em nós dois.
Jesus, morreria de desgosto em saber que fui ao pai
Não por ele, mas por você.
Aceitaria com um desejo resignado
Tua saia longa, tua gola alta
Mesmo assim, mesmo assim, o pouco do teu corpo
que se revelasse para mim...
Eu poderia perder noites de sono
Lembrando de tuas canelas nuas
Ah, essas tuas canelas nuas...

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Morreu Jovem



Morreu jovem
Pouco tinha visto da vida
Assassinada cruelmente
Jogada numa esquina pouco movimentada
Morta em vão
Nada no mundo mudou depois que seu pescoço foi cortado
Nenhum casamento desfeito
Nenhum cargo ocupado
Nenhum amor conquistado
Nenhum carnê liquidado
Morreu em vão
Nem teve a dignidade de alimentar a família na mesa de domingo
Nem, a bela sensação de esquentar a casca de sua prole
De vê-la saindo do ovinho com aquela carinha feia de quem come minhocas
Morreu sem ter escapado pra rua
Ou andado de caminhão
Como muita gente, morreu por culpa de religião
Não porque se opunha a alguma
Morreu porque alguém inventou
Que santo como galinha com farofa
No além.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Memórias de um vampiro



Dentes afiados num sorriso amarelo
Cabelo penteado pra trás
Capa, roupa preta e pesada
Longe de estacas, marretas e martelo
É certo que carrego em minhas costas alguns séculos
Ja escalei paredes de donzelas
Tomei vinho caro
Ja fui brisa, mora?
Ventania!
Maremoto!
Ja fui cão.
Ja mordi e me deixei morder na mesma proporção
Aproveitei bem a adolescência
Minha e de muitos
Frequentei a "high-society"
Só entrava onde era convidado
É certo também que fui expulso com alho
Água benta de namorados ciumentos
Eu ja fui! E isso, ja foi...
Hoje, minha roupa é motivos de piada
Meus sapatos
Minha capa
Torrei toda a fortuna dos Vlads
Em jogatinas e quebras de bolsas
Trocas de moedas e inflação
Precisei vender toda a minha coleção dos Beatles
O melhor do verão romeno 67
Hoje, ouço Cleopatra Stratan
E moro de favor na casa de um tataraneto de igor
Trabalho numa fábrica
Sou assalariado e bebo vinho barato
Carrego um morcego dentro da carteira
Não condeno mais ninguém a vida eterna
Desanimei
E a única coisa que transmito é herpes
Ah, não vejo a hora da eternidade passar.

terça-feira, 17 de maio de 2011

Quando a alma sai...




Como disse minha bisavó: “Sonhos, são almas que se encontram”. Toda noite quando durmo, minha alma faz um conhecido trajeto: desce as escadas de casa e caminha alguns quilômetros em direção ao teu portão. Minha atrapalhada alma descobriu que o caminho só podia ser feito a pé, depois que seus pés passaram direto pelo pedal do acelerador do carro e as mãos não conseguiam segurar o volante.
No caminho, minha alma vê almas alheias, algumas se encontram secretamente com almas amantes, outras saltam de altos prédios e somem antes de atingir o chão. Certa vez ela viu, uma alma aflita correndo de outras almas, era curioso o modo como ela se esforçava sem sair do lugar, tentava em vão correr.
Longo tempo depois e finalmente tua casa, logo minha alma avista tua bela alma de pele morena atravessando o portão. Tua alma tem olhos de jabuticabas e veste um belo vestido vermelho, só então, minha ridícula alma percebe que veste meias, uma calça de pijamas e camiseta. Pobre alma a minha! Como em todas as noites, minha alma é ignorada pela tua, que desce a rua num andar apressado. A alma de meias não segue teu rastro, pois sabe, que é nessa hora em que o sonho vira um pesadelo, resta a resignação vazia da alma.
Numa teimosia característica, minha alma passa pelo teu portão, contorna a casa, fugindo da alma feroz de sua mãe e atravessa a parede do teu quarto, admira o teu sono e vasculha teu armário aberto, tenta acariciar teu rosto. É inicio de manhã e minha alma sutilmente desaparece do teu quarto, ela é chamada de volta pelo choro chato de um despertador, entra então num corpo mal dormido, de meias, calça de pijama e camiseta.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

É tudo mãe



É tudo mãe, irmão
Mãe de amigo
Mãe de juiz ladrão
Mãe canguru
A mãe terra
Mãe minhoquinha...
Gaia!
Mãe luz
Mãe poste
Mãe conta atrasada
Esquentando a mamadeira a luz de velas
De madrugada
É mãe de camarada
Mãe Casas Bahia
Melhor preço, apreço
A preço de custo
Custo de causa
De noite mal dormida
Mãe que vigia o berço
Mãe chá de bebê
Mãe que bebe!
Que esquece
Esqueci de si
Mamãe avestruz
Mãe de cristo
Lágrimas ao pé da cruz
É mãe de juiz
Mãe de Jesus
Mãe de avestruz
É tudo mãe, irmão.

domingo, 10 de abril de 2011

Inexistir


Meus pulsos de torneira
Pulsos de torneirinha
Escorrendo groselha
Pelo ralo da pia
Pois não vejo a hora
De deitar de meias
Me livrar desse sapato apertado
Da má postura
Da visão do chão
Pois deitado
O peso de um coração cheio de mágoa
Me corrige a postura
Deitado
Caixote adornado
Até toda memória se extinguir
O pinho ruir
O bicho roer
Qualquer resquício
De demência
De existência
De existir.

sábado, 2 de abril de 2011

Dorme menino


Reizinho ocupa 1/3 do sofá onde deita
No meu pequeno sofá, me sobram pés e cabeça
Abdico do jornal
Reizinho é adepto de revolução
E se sua vontade de assistir desenhos não for respeitada
Berra alto, taca a chupeta no chão
A mim não incomoda, reclamo não
Adoro ouvir as gargalhadas do garoto
Enquanto o gato persegue o rato na televisão.
Quando olho pro lado, reizinho ja adormeceu
Foi um dia longo
E teus pézinhos andaram tanto.
Dorme reizinho
Mãe ta na igreja
Foi pedir a Deus pra que conservasse tua saúde
Que abençoe tua beleza e esses olhos azuis
Não te maltrate a dor da saudade do que ainda não conheceu
Mãe foi pagar tributo ao senhor
Pra que não te falte o arroz, o mingau.
Quando o sono rola a última pedra em teus olhinhos
Me levanto e sigo até teu reino
Tiro todos os teus súditos no teu berço
São eles, ursos, coelhos e palhaços
Te repouso suavemente em teu leito
Com a perícia de quem muito ja o fez
Então acendo o abajur e contemplo teu sono
Faço guarda por alguns instantes.
Dorme reizinho
O reino corre perigo
Algumas batalhas não vamos vencer
É a vida reizinho
Ou, a falta dela
O que vamos temer.

sexta-feira, 25 de março de 2011

Bestas, bichos e monstros




A besta vinha num passo lento
Tinha o rosto fino
E parecia ter mil anos
Soltava fumaça pela boca e pelo nariz.
Trazia no colo seu bicho
De pelo claro
Cara amassada
Unhas cortadas
Laço na cabeça
Coleira prateada.
A besta não ousava carrega-lo pelo pescoço
Temia que suas patas tocassem o cimento.
Entraram então, em grande salão
De bela almofada,de mesa adornada.
No cimento, do lado de fora
Um outro bicho observava pela janela
Tinha a cara peluda
Faltavam-lhe os dentes
Tinha unhas grandes
Estava quase nu.
O bicho do lado de fora, nem sempre foi bicho
Adquiriu tal título ao perder o juizo
Passou a andar de quatro
Carregava dentro de si, um monstro
Responsável por seu tormento
Quando lá dentro foi servido ao bicho
Arroz, aveia e cordeiro
A besta entre dentes amerelos, riu...
O bicho frente ao banquete, latiu...
O bicho do lado de fora ao fitar, gruniu...
O monstro urrou.
Maltratou-lhe o estômago
Cuspiu ácido em sua barriga
Contorceu-se de dor
De fome.


*Na PetDelicia, restaurante para cães
os pratos variam entre R$6,00 e R$25,00

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Olfato

A casa estava toda apagada, uma luz que vinha da varanda e os postes de rua iluminavam aquela bela silhueta. Era noite e ela esperava no portão. Vestia um vestido azul claro, de alças finas, nem curto, nem longo, só era indecente aos olhos de quem pudesse enxergar. Vestido que só acentuava as belas curvas de Bianca, seus seios fartos e as belas coxas, além dos largos quadris. Bianca era linda, pele morena, cabelo castanho escuro levemente ondulado, boca carnuda e belos olhos cor de jabuticaba. Era desejada por velhos, homens,adolescentes e crianças de colo e estava particularmente maravilhosa naquela noite. O cheiro dela era uma bela combinação de sabonete liquido, creme para o corpo, condicionador e um perfume leve. Era um odor parecido com chuva em manhã de domingo. Um carro contorna a praça na frente da casa e estaciona, dali sai Ricardo, vestido como manequim de loja de departamento: camisa social, calça jeans e tênis. Cuspiu o chiclete e veio andando em direção a Bianca, ele não podia acreditar em como ela estava linda naquela noite, sentiu o seu cheiro. Ela, também detectou o cheiro dele: loção pós barba, desodorante, perfume e pomada para acne. Ricardo era um bom rapaz, trabalhador e mais inteligente do que esperto. Tinha cabelos curtos e dentes irritantemente claros e certinhos. E foi assim, nesse circo de cheiros, aromas e perfumes que saíram.
No belo trajeto que o carro fez sem pressa pela orla, puderam conversar coisas amenas e bobas. Livros, programas de TV, musica, cinema. A noite era boa, um vento leve, batia, ela abriu a janela do carro e inclinou a cabeça, parecia feliz. Ele, ainda meio tenso, procurava no fundo dos bolsos um assunto, algo engraçado pra dizer. Não deu tempo. Chegaram num belo e simpático bar na beira da praia. O bar parecia um grande deck, todo em madeira e com belas luminárias, um ambiente intimista e agradável. Ele acertou em cheio na escolha. Era uma noite de verão e a lua a deixava ainda mais especial. Ricardo não tirava os olhos da boca de Bianca, Bianca não desviava os seus olhos dos dele. Entre um chopp e outro, ele imaginou sentir um certo cheiro de excitação por parte dela, ela, nele, sentiu o cheiro da ansiedade, ambos estavam certos. O alcool, a bela noite, a lua e tudo mais, fizeram com que palavras e sentimentos que adormeciam no porão viessem à tona. Vieram junto com os beijos, intensos, sinceros. Ela aproximou ainda mais a sua cadeira da dele, jogou os cabelos para o lado e disse-lhe ao pé do ouvido, com uma voz que arrepiaria o mais troglodita dos homens: “Dorme comigo, meus pais só voltam amanhã”. Ricardo, embora mais inteligente que espertou, sabia que a palavra “dormir” estava totalmente fora de contexto ali. Bebeu de súbito todo o conteúdo de seu copo e pediu a conta, ela riu.
Na volta, o caminho pitoresco passou mais rápido. E logo chegaram no portão da casa, a rua era vazia, as luzes dos postes iluminavam os dois. Entraram, percorreram o jardim. O cachorro já baforava por baixo da porta da sala, ele sentia o cheiro da sua dona e de um estranho. Passaram por ele sem se importar com seus latidos e balançar de rabos. Uma camisa de loja de departamentos lhe acertou o focinho, continuou a persegui-los no trajeto sala/quarto, desviou do vestido azul que veio em sua direção e bateu com a cara na porta. Dentro do quarto todos os cheiros se misturaram, adicionados ao suor, saliva e outros mais. A lua quis ficar pra ver, ou, pelo menos ouvir o que acontecia lá dentro, mas já era hora de ir. De fato a palavra “dormir” foi mal empregada e as 7hs da manhã Ricardo se foi. Foi acompanhado por Bianca- que trajava um hobby- até a porta da sala, um beijo tenro, um “te amo”, um abraço forte. O cachorro o acompanhou até o portão, os três pareciam felizes. Entrou no carro e se foi, na volta o cachorro deu com a cara na porta de novo. Bianca voltou , entrou no seu quarto, fechou a porta, deitou-se na cama e ainda podia sentir o cheiro de seu amado no travesseiro, dormiu feliz. As 10hs, latidos! Barulho, “eles chegaram”, chave na porta, sacolas, cachorro dentro de casa. Os pais de Bianca chegaram, tudo normal, a rotina da casa parecia intacta, até que, ao recebê-los e abrir a porta do quarto, Bianca deixou escapar um cheiro constrangedor, bom, mas totalmente importuno naquela hora. O cheiro de sexo invadiu toda a casa.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Carece de amor e título

O nosso amor é um desses moleques de rua
De vida triste
De alma nua
Um amor que vive à deriva
Sem pai, nem mãe.
Amor mal alimentado
Amor pé no chão
Amor carente de carinho, afago, afeto e pão.
É comum ver nosso amor vagando por ai
Sem ter pra onde ir
A casa dele, desse amor, é a praça
O resto da construção
O nosso amor, dorme em folha de papelão
Tão magro, fraco.
O amor que tem duas camisas
Suja no corpo
Rasgada no varal.
É triste
De causar espanto, dor, aflição
De rasgar o peito, apertar o coração
Mastigar fatos cheio de consternação
Perceber que esta fadado a morrer
Que não é possivel que resista
Vai certamente perecer
Causa mortis: desnutrição.
Esse amor pé no chão
Amor barriga d'agua
Esse nosso amor bicho de pé
Morto, frio e gelado
Pousado no chão.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Cicatriz

Quando só existia a televisão da sala
Num tempo em que só se buzinava por cordialidade
Antes de me maravilhar ao assistir o funcionamento de uma torradeira
Antes disso tudo
Eu ja era uma folha no chão
Uma das primeiras a me desgarrar ou, ser jogada da árvore
Muito,muito antes do inverno
Fui carregado de um ponto ao outro
Varrido, guardado dentro de um livro
Eu assiti com um aperto no peito e um grito mudo
O fim de todos os cataventos
Dos apertos de mãos e abraços
Gastei por avenidas e ruas estreitas, todos os meus sapatos
Andando dentro e fora de mim
Em lugares que ainda tenho medo de ir
Bebi litros de Merthiolate e Mercúrio cromo
Procurando sarar, amenizar uma dor meio teimosa
Uma vez a vida em sua cretinice vulgar, cismou em me lavar a alma
Fui lavado, centrifugado, batido e torcido por grande máquina de dentes afiados
Ja berrei e fui censurado pela ditadura de papai e mamãe
Fui torturado e massacrado por crianças maiores que eu
Nunca obtive êxito em qualquer tipo de jogo
Guardo todos os meus amigos do tempo da escola
Ainda guardo, num antigo gravador dum canto empoeirado da memória
A voz de todos eles, seus risos, algum choro
Hoje, não me vejo nos olhos da maioria deles
Eu, sou uma coisa magra, fraca, "esmirrada" e triste
Debaixo desse monte de cicatrizes

Boca

A boca é Bela
Desenhada
A voz é doce
Mansa
A palavra é pedra
Dura
Palavra Corte
Sangue
Palavra corda no pescoço
Osso
A boca é vermelha
A tua mentira
Teia
Centelha
Fogueira
Palavra louca
Palavra dura
Palavra morte
Palavra falta de sorte
Palavra...
Qualquer palavra...
Toda...
Toda palavra
Que sai de tua boca.

Roland Emmerich

Se reuniram, se reuniram como velhas desocupadas em dia de domingo, porém, o motivo pelo qual as forças da natureza se juntaram em assembléia era muito mais maligno: destruir -de novo- a raça humana.
No dia e hora marcados o ataque foi mortal, o vento soprou como nunca antes, desarrumou cabelos, levou perucas, levou também a cabeça de seus donos. Casas foram jogadas ao ar como casinhas de papel frente ao ventilador. A terra se abriu engolindo acampamentos hippies e castelos da "high society". O mar avançou com toda a sua fúria numa onda gigante, destruindo o pouco do que havia sobrado da presença do homem na terra. Numa irônia mordaz e cruel a única casa que ficou em pé, o único sobrevivente após a grande tragédia, chamava-se Roland Emmerich.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Morto

Um homem morto anda por ai, eu vi
Com olhos cansados, fundos e negros
Mãos brancas, tremulantes, cheias de manchas e pequenas veias
Um homem morto anda por ai, seu corpo leve ainda não foi levado
Uma brisa fria atravessa a rua, ele passa despercebido
Nem Deus sabe de sua existência e nem o Diabo conhece seu paradeiro
Um homem morto anda por ai, eu vi!
Escolhe frutas na feira
Inveja o sorriso da criança
E nem todo o açucar do mundo cura essa amargura
Sem porta-retrato, sem foto 3x4
Nem riso ou choro, nem velho, nem moço
Homem, vulgarmente conhecido como "cadáver"
Anda por ai, eu vi
Eu vi um homem morto por ai
Vi, me encarou severamente
De sua boca nem uma fria palavra
Seus pensamentos me congelaram a alma
Vi um homem morto, me encarou desapontado no espelho.