quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

"...mas não quebra opinião."

        
       Aglomeração na praça. No meio do circulo estava ele, gesticulando, bradando e anunciando. Tinha estatura média, vestia camiseta e calça de moletom. Era forte, a camiseta sem mangas mostrava um braço torneado. Não era um braço construído em academias, parecia ter sido moldado entre enxadadas e baldes de massa. Eu, garoto, conseguia ver tudo de um lugar privilegiado: estava na parte de dentro do grande circulo de curiosos. Havia um bambolê suspenso por uma base fixa e várias facas de cozinha transpassando o brinquedo.  Ele anunciou que iria saltar por ali.
        -É isso mesmo minha senhora, darei um salto mortal por dentro do círculo de facas da morte! - Revelou. De fato, alguns rasgos em sua camiseta denunciavam que nem sempre ele obteve sucesso. Antes do salto, fez um comovente discurso sobre arte de rua, disse que não pedia dinheiro, mas quem quisesse ajudar, poderia comprar uma de suas pomadas.
        -Cura tosse, dor nas costas, infecção, bico de papagaio, bronquite, artrose, rinite alérgica, tira verruga e ainda bronzeia! – Pensei em pedir a minha mãe pra comprar uma dessas, eu sofria de quase tudo o que ele havia descrito.
         Antes do grande salto, silencio. Todos observavam. Um clima tenso tomou a praça. O artista encarava o brinquedo, parecia concentrado. Rompeu o silêncio mais uma vez, anunciou as pomadas e manteve o discurso:
         -Pularei como um gato, uma fera, um animal! Tenho sangue de leopardo na veias. Venho de uma família de ninjas. Pularei pelas facas igual, igual –Me olhou- Igual o Jiraya!!
          Apontou pra mim e perguntou:
          -Gosta do Jiraya garoto?
          Toda a praça me olhava. Eu, depois do artista, do bambolê e da pomada, era o centro de todas as atenções. O silencio era cortado por uma buzina ao longe e por um choro de bebê, perto. Hesitei em responder, eu não gostava do Jiraya, na verdade, eu odiava o Jiraya.
          -Responde garoto, gosta do Jiraya?-Gritou. Eu tremi! Umas gargalhadas rolaram ao fundo.
          -Eu...eu...eu prefiro o Jaspion.
          Toda a praça riu, era tanto riso que creio que até os pombos riam. O artista de rua riu um riso sincero e pulou.