segunda-feira, 30 de maio de 2011

Memórias de um vampiro



Dentes afiados num sorriso amarelo
Cabelo penteado pra trás
Capa, roupa preta e pesada
Longe de estacas, marretas e martelo
É certo que carrego em minhas costas alguns séculos
Ja escalei paredes de donzelas
Tomei vinho caro
Ja fui brisa, mora?
Ventania!
Maremoto!
Ja fui cão.
Ja mordi e me deixei morder na mesma proporção
Aproveitei bem a adolescência
Minha e de muitos
Frequentei a "high-society"
Só entrava onde era convidado
É certo também que fui expulso com alho
Água benta de namorados ciumentos
Eu ja fui! E isso, ja foi...
Hoje, minha roupa é motivos de piada
Meus sapatos
Minha capa
Torrei toda a fortuna dos Vlads
Em jogatinas e quebras de bolsas
Trocas de moedas e inflação
Precisei vender toda a minha coleção dos Beatles
O melhor do verão romeno 67
Hoje, ouço Cleopatra Stratan
E moro de favor na casa de um tataraneto de igor
Trabalho numa fábrica
Sou assalariado e bebo vinho barato
Carrego um morcego dentro da carteira
Não condeno mais ninguém a vida eterna
Desanimei
E a única coisa que transmito é herpes
Ah, não vejo a hora da eternidade passar.

terça-feira, 17 de maio de 2011

Quando a alma sai...




Como disse minha bisavó: “Sonhos, são almas que se encontram”. Toda noite quando durmo, minha alma faz um conhecido trajeto: desce as escadas de casa e caminha alguns quilômetros em direção ao teu portão. Minha atrapalhada alma descobriu que o caminho só podia ser feito a pé, depois que seus pés passaram direto pelo pedal do acelerador do carro e as mãos não conseguiam segurar o volante.
No caminho, minha alma vê almas alheias, algumas se encontram secretamente com almas amantes, outras saltam de altos prédios e somem antes de atingir o chão. Certa vez ela viu, uma alma aflita correndo de outras almas, era curioso o modo como ela se esforçava sem sair do lugar, tentava em vão correr.
Longo tempo depois e finalmente tua casa, logo minha alma avista tua bela alma de pele morena atravessando o portão. Tua alma tem olhos de jabuticabas e veste um belo vestido vermelho, só então, minha ridícula alma percebe que veste meias, uma calça de pijamas e camiseta. Pobre alma a minha! Como em todas as noites, minha alma é ignorada pela tua, que desce a rua num andar apressado. A alma de meias não segue teu rastro, pois sabe, que é nessa hora em que o sonho vira um pesadelo, resta a resignação vazia da alma.
Numa teimosia característica, minha alma passa pelo teu portão, contorna a casa, fugindo da alma feroz de sua mãe e atravessa a parede do teu quarto, admira o teu sono e vasculha teu armário aberto, tenta acariciar teu rosto. É inicio de manhã e minha alma sutilmente desaparece do teu quarto, ela é chamada de volta pelo choro chato de um despertador, entra então num corpo mal dormido, de meias, calça de pijama e camiseta.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

É tudo mãe



É tudo mãe, irmão
Mãe de amigo
Mãe de juiz ladrão
Mãe canguru
A mãe terra
Mãe minhoquinha...
Gaia!
Mãe luz
Mãe poste
Mãe conta atrasada
Esquentando a mamadeira a luz de velas
De madrugada
É mãe de camarada
Mãe Casas Bahia
Melhor preço, apreço
A preço de custo
Custo de causa
De noite mal dormida
Mãe que vigia o berço
Mãe chá de bebê
Mãe que bebe!
Que esquece
Esqueci de si
Mamãe avestruz
Mãe de cristo
Lágrimas ao pé da cruz
É mãe de juiz
Mãe de Jesus
Mãe de avestruz
É tudo mãe, irmão.