terça-feira, 17 de maio de 2011

Quando a alma sai...




Como disse minha bisavó: “Sonhos, são almas que se encontram”. Toda noite quando durmo, minha alma faz um conhecido trajeto: desce as escadas de casa e caminha alguns quilômetros em direção ao teu portão. Minha atrapalhada alma descobriu que o caminho só podia ser feito a pé, depois que seus pés passaram direto pelo pedal do acelerador do carro e as mãos não conseguiam segurar o volante.
No caminho, minha alma vê almas alheias, algumas se encontram secretamente com almas amantes, outras saltam de altos prédios e somem antes de atingir o chão. Certa vez ela viu, uma alma aflita correndo de outras almas, era curioso o modo como ela se esforçava sem sair do lugar, tentava em vão correr.
Longo tempo depois e finalmente tua casa, logo minha alma avista tua bela alma de pele morena atravessando o portão. Tua alma tem olhos de jabuticabas e veste um belo vestido vermelho, só então, minha ridícula alma percebe que veste meias, uma calça de pijamas e camiseta. Pobre alma a minha! Como em todas as noites, minha alma é ignorada pela tua, que desce a rua num andar apressado. A alma de meias não segue teu rastro, pois sabe, que é nessa hora em que o sonho vira um pesadelo, resta a resignação vazia da alma.
Numa teimosia característica, minha alma passa pelo teu portão, contorna a casa, fugindo da alma feroz de sua mãe e atravessa a parede do teu quarto, admira o teu sono e vasculha teu armário aberto, tenta acariciar teu rosto. É inicio de manhã e minha alma sutilmente desaparece do teu quarto, ela é chamada de volta pelo choro chato de um despertador, entra então num corpo mal dormido, de meias, calça de pijama e camiseta.

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