domingo, 22 de janeiro de 2012

Francie Brady


Tem olhos tristes
Tem um olhar perdido
Apara a cabeça tristonha sobre mãos cansadas
Numa janela de vidros sujos observa o lago
Veste uma camisa azul desbotada
Uma bermuda de pano rasgada
Meias e sapatos velhos
Tem um peixinho dourado numa sacola
Tem uma vitrola
Tem muita saudade
Tem fome também
Tem olhos tristes
Tem um olhar perdido
Apara a cabeça tristonha sobre mãos cansadas

domingo, 8 de janeiro de 2012

Caixas cheias em quarto vazio


Inverno
Ecos no quarto
Um domingo vazio
Pés singelos, passo torto
Vivência de um morto
A sua tristeza, disco duplo
De Adriana Calcanhoto
Possui na mão direita
A destreza de um canhoto
Olhos marejados
Atrás de óculos embaçados
Falta, do peso de um abraço
Afastado
Pelo peso da própra consciência
Caixas cheias em quarto vazio
Uma flor morta na sala
Objetos desesperados dentro de uma mala
Rosto hidratado
Soro de lágrimas
Comprimido de diferente cor
Algo que amenize saudade e dor.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Pausa para os comerciais



Hoje os porcos usam chapéu e uniforme
Caminham em fila com o espaço de uma pata pro animal da frente
As crianças consomem lavagem até alta madrugada
Lixo televisivo, seriado e feijão enlatado
Containers de lixo hospitalar importado.
A minha doença é melhor que a sua
A minha doença é made in USA
Pontas de agulhas da melhor qualidade.
Cidades se juntam numa relação promiscua
Nascem as megalópoles
Morrem os que sentem frio
Arranha-céus, prédios tão altos, que se leva um dia inteiro
Pra satisfazer o desejo do suicida, tamanha a queda.
Espaço garantido para novos poetas
E suas velhas mezelas
Vã filosofia do "subnick"
Emolduradas em janelas verdes, amarelas...
Fotos preparadas com cuidado
Baton vermelho, no espelho do banheiro.
Nesses dias modernos em que o tempo é escasso
Palavras se juntam, se fundem e fodem quem as tenta ler
Estuda-se tanto, para se comunicar por grunhido.
Minha visão do mundo tem 14 polegadas
Antena UHF, mono
Eu tenho medo de colocar o pé la fora
Observo tudo por uma janela empoirada, suja, fechada.
Tento, decididamente, decidir entre tanta falta de opção
Mas um medo terrivel do mundo mantém meus pés no chão
Essa fumaça preta me ataca os pulmões
Esses sapatos apressados vão trombar nos meus
E se eu não conseguir?
E se eu não te fizer gozar?
Se eu não souber soletrar?
Vou passar ridículo
Vou sujar meu nome
Vai entrar outro em meu lugar
De novo no final da fila
Porque hoje, os ponteiros do relógio
Trabalham com pilha alcalina
Minha TV se alimenta de energia nuclear.