segunda-feira, 12 de março de 2012

Pedro e Marcelo - parte 2



Num domingo de sol, todas as crianças estavam na rua, podia-se ouvir os gritos e as gargalhadas, bicicletas disputavam corridas de poucos metros, pipas enchiam o céu azul de diferentes cores e o vendedor de picolé soava como um tenor, tentando sem sucesso impor a sua voz meio a gritaria. Nesse mesmo domingo, certa ansiedade dominava Marcelo, nesse dia ele iria almoçar na casa do novo amigo. Foi a primeira vez, no alto de seus 11 anos, em que era convidado para almoçar na casa de alguém, na verdade, era a primeira vez que ele era convidado pra qualquer coisa. Sempre ficava de fora das festas de aniversário, batizados, comemorações de qualquer tipo.
As onze horas, uma hora antes do combinado, era possivel ver Marcelo andando pela rua. Subiu e desceu, rodopiou o quarteirão, perguntava a toda hora que horas eram e contava a partir de então os minutos mentalmente. Usava uma calça de tamanho menor, seus sapatos eram visivelmente maiores e a sua camisa era a mesma de sempre.
Quando faltavam cinco minutos para uma hora, parou em frente ao portão de Pedro, era um portão de madeira velho, os muros eram baixos e a casa tinha duas janelas pra rua. Uma casa muito simpática e acolhedora, de cor amarela. Marcelo secou o suor da testa, limpou também as pequenas goticulas de suor que se formava sobre sua boca e soltou o ar numa baforada pesada, tentando aliviar a ansiedade. Foi chamado por pedro, num berro contido e atravessou o portão com passos largos.
Foi saudado pela mãe de pedro logo na porta e estranhou o sorriso que ela tinha no rosto, desconfiou, balançou a cabeça num comprimento rápido e entrou. A porta de entrada revelava uma sala simples, com um sofá vermelho, uma estante de madeira com alguns porta-retratos e uma TV. Viu alguns quadros do amigo na parede, os quadros em ordem crescente, mostravam Pedro desde bebê até a idade atual, pode concluir então, que o pequeno era esquisito desde que nasceu.
Na mesa, estava sentado o Pai de pedro, tinha um ar sereno e uma voz cansada, usava óculos e barba. Chamou Marcelo pelo nome e puxou com alguma dificuldade a cadeira para o convidado se sentar. O cheiro que vinha da cozinha era muito bom. Antes do almoço ser servido, conversaram sobre muitos assuntos: futebol, televisão, quadrinhos. Descobriram que os dois estudavam na mesma escola e que nunca se encontraram porque Pedro nunca ia na quadra e Marcelo nunca aparecia na sala de aula. Quando o almoço foi servido, Marcelo disfarçou bem a fome que tinha: comeu devagar, mastigou com a boca fechada e conteve a vontade de repetir, porém ficou evidente no seu olhar e foi percebido por todos a fome que ele tinha de uma mesa pra sentar, alguém pra conversar, pra chamar de "pai", de "mãe". Ele poderia facilmente abdicar de sua saúde perfeita e ganhar algumas alergias, para fazer parte daquela familia.
Na hora de ir embora, quando a noite começava a cobrir o bairro de negro, combinou com o amigo de encontra-lo na escola no dia seguinte, como duvidava que Pedro apareceria na quadra, Marcelo faria um esforço e iria até a sala de aula. Foi embora e no dia seguinte, quando olhou com um olhar desconfiado pra dentro da sala de aula, viu que Pedro não estava por lá.

(continua)