domingo, 10 de abril de 2011

Inexistir


Meus pulsos de torneira
Pulsos de torneirinha
Escorrendo groselha
Pelo ralo da pia
Pois não vejo a hora
De deitar de meias
Me livrar desse sapato apertado
Da má postura
Da visão do chão
Pois deitado
O peso de um coração cheio de mágoa
Me corrige a postura
Deitado
Caixote adornado
Até toda memória se extinguir
O pinho ruir
O bicho roer
Qualquer resquício
De demência
De existência
De existir.

sábado, 2 de abril de 2011

Dorme menino


Reizinho ocupa 1/3 do sofá onde deita
No meu pequeno sofá, me sobram pés e cabeça
Abdico do jornal
Reizinho é adepto de revolução
E se sua vontade de assistir desenhos não for respeitada
Berra alto, taca a chupeta no chão
A mim não incomoda, reclamo não
Adoro ouvir as gargalhadas do garoto
Enquanto o gato persegue o rato na televisão.
Quando olho pro lado, reizinho ja adormeceu
Foi um dia longo
E teus pézinhos andaram tanto.
Dorme reizinho
Mãe ta na igreja
Foi pedir a Deus pra que conservasse tua saúde
Que abençoe tua beleza e esses olhos azuis
Não te maltrate a dor da saudade do que ainda não conheceu
Mãe foi pagar tributo ao senhor
Pra que não te falte o arroz, o mingau.
Quando o sono rola a última pedra em teus olhinhos
Me levanto e sigo até teu reino
Tiro todos os teus súditos no teu berço
São eles, ursos, coelhos e palhaços
Te repouso suavemente em teu leito
Com a perícia de quem muito ja o fez
Então acendo o abajur e contemplo teu sono
Faço guarda por alguns instantes.
Dorme reizinho
O reino corre perigo
Algumas batalhas não vamos vencer
É a vida reizinho
Ou, a falta dela
O que vamos temer.