domingo, 21 de agosto de 2011
Chinelos
Quando eu abro os olhos, encaro um teto feio de tijolos. É cedo, tão cedo, que até os fornos das padarias dormem. Apoio o dedo sobre o despertador e num movimento mecânico, o calo antes que ele desperte. Minha senhora se vira pra mim, também num movimento mecânico e numa mistura de amor e rotina, me beija a testa. De volta ao seu travesseiro ela tenta recolher vestígios de algum sonho bom.
Enquanto me arrumo, a chaleira geme baixinho, requentando um café de ontem. Ele desce como lava, num estômago apressado e mal-jantado. Pego mochila, cigarros, marmita, palavra-cruzadas e saio.
Sobre a soleira da porta, ao lado de meu sapato triste e gasto, um chinelinho rosa me pede um afago. Retorno e entro no quarto da menina. Me sento devagar em sua cama e a observo dormir. Meu carinho bruto, numa mão pesada de massa a acorda assustada.
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