segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012
O dia em que Zé parou
Parou, Zé parou
No meio da calçada
Olhou pro longe
Pensou em voltar para o lugar nenhum
Ou continuar pra nenhum lugar.
Magro, sem documento, sem nome
"Zé" apenas
"Zé" para não ser chamado de "coisa" ou "treco"
"Zé", embora ninguém pronunciasse seu nome.
Deitou-se no meio do passeio público
Esticou-se devagar
Abriu os braços e tentou encarar o sol
Como se o desafiasse
Como se o chamasse para um duelo
Às duas da tarde.
O sol não teria muito problema ou dificuldade
Em torrar a pouca carne de Zé
De evaporar o pouco de líquido e alma presente no mirrado corpo
E assim o fez...
Não se sabe, se Zé morreu de desidratação
Ou morreu antes, de desgosto, por vontade própria.
Esticado...
No meio do passeio público
Olhos fundos, seu corpo parecia uma folha seca, contorcido
Dedos ristes, boca aberta
Nada que fizesse o mundo parar
Ou o trânsito, sapatos e cachorros.
Ninguém se deu conta de que ele estava meio da calçada
Passos apressados passavam por seu corpo inerte
Pequenos passos em pequeninas pernas
Pé direito por cima do corpo de Zé
Pe esquerdo por cima da magreza de Zé
E até uma criança havia passado por ali.
Quando noite, foi empilhado junto ao lixo das lojas
Levado pelo caminhão
Jogado no aterro sanitário.
No outro dia, em sua volta foram catadas todas as latinhas
Restos de papel e papelão
Ele, continuou lá
Evaporando aos poucos
Sumindo, sumindo...
Até que sumiu por completo
E sua alma inexistente contemplou finalmente o nada.
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