segunda-feira, 7 de junho de 2010

Reflexos de fogão

Ontem, descobri que cresci, só ontem. Há alguns anos atrás, que me parecem décadas ou séculos, na verdade, parece que foi em outra vida, quando pela noitinha logo depois do dever de casa eu costumava me sentar em frente ao fogão. Encostado na parede e tagarelando sem parar, eu via perfeitamente meu rosto de moleque refletido no vidro do forno. O rosto que eu via era de um desdentado e sempre curioso Lucas.
Então, o tempo sempre cruel, passou e passou. Sem se importar com tudo o que passa junto com ele. E tanta coisa passou com ele, passou a panela, a conversa, o café quentinho, o dever de casa e a própria mãe que cozinhava ali, também passou.
Ontem, milênios depois disso tudo, ao requentar um café de anteontem, sentei de novo em frente ao fogão. Instantaneamente toda a memória daquele tempo voltou à minha cabeça. Mas o que eu vi, não era mais um moleque curioso e risonho. O que eu vi e que me deu a total consciência da minha velhice, não foi um rosto de homem velho e carrancudo, foi a falta de um rosto! O que eu vi em frente ao fogão, foi um pescoço... e só!

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