Era tudo antigo naquela padaria. O letreiro com o nome do estabelecimento era patrocinado por um refrigerante extinto a décadas. A balança ainda era daquelas em que se puxava um pesinho prum lado, pro outro, só um toque, Pronto!
duzentos gramas de mortadela de frango. Antigo também era o seu dono, sempre mal-humorado, cigarro na boca e caderno de esportes na mão.
Quando o guri venceu o medo do sujeito mal encarado no caixa, que ficava logo na entrada da padaria, correu para os fundos, onde um balcão de frios e doces se escondia. Atrás do balcão uma menininha também, forçada pela vida a ser mulher antes de brincar de casinha. Ela limpava um cortador de frios, cego e empoeirado. Na ponta dos pés o garoto perguntou então a atendente:
-Oi,você tem sonho?
Então, lentamente a menina parou o trabalho, olhou com um olhar pesado e triste os olhinhos e as mãos que se apoiavam com dificuldade no balcão e respondeu:
-Eu acordo as cinco, me arrumo, esquento o café, acordo a menina, visto ela, saio com pressa pra não perder o ônibus, deixo a menina na creche, venho andando até aqui. Trabalho até as duas, saio,engulo qualquer coisa, dou um jeito na casa e pego umas costuras pra fazer, ainda busco a menina na creche, então tenho que fazer comida, arrumar a marmita pro marido...mal vejo a novela e durmo! Não menininho, eu não tenho mais sonhos não.
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