O sol dá as caras ainda sonolento e um ônibus quase vazio vai se afastando do mundo real. Deixa pra trás casas juntinhas uma das outras, pessoas, portas de aço que ainda não se abriram. O ônibus continua e na demorada viajem, um pequeno cochilo e um pacote de biscoitos, quando a pequena se dá conta o visual lá fora é outro, estrada de chão, muito mato e arvores! Um cachorro magrinho dormindo atrás de uma cerca de arame não passa despercebido pelos olhinhos curiosos da menininha. De mãos dadas com a avó vai caminhando e o próprio ônibus agora, fica pra trás.
Falante a pequena! E toda a energia que lhe sobra em passinhos apressados, falta na avó, de andar curvado e lento, cansado. Passam por um muro alto e um portão imponente, mas já estiveram ali antes e o olhar sisudo do rapaz de boné e botas da lugar a um sorriso acolhedor ao ver um vestidinho rosa desbotado carregando uma boneca velha. A pequena dentro do vestido ganha um afago e prossegue, continua por ruas bem cuidadas, num lugar onde as casas não têm muros!
Enquanto a boneca e a menina descansam os pés descalços num sofá confortável, a senhora prepara um pão “com coisa boa dentro”. Depois de alimentada é hora de dormir um pouquinho, numa cama que pertence a uma princesa que a menininha só conhece por fotos e que não ficaria nada satisfeita em saber que um vestido meio amarrotado e velho descansava ali. Na hora do almoço conta casos e reluta em comer as verduras, mas come. E depois enquanto a casa vai ficando cheirosa e arrumada e menininha ainda corre pelo jardim. Tudo limpo, arrumado e o chão parece um espelho. Hora de ir.
Agarrada a sua boneca os passinhos agora são lentos, passinhos de quem parece não querer voltar pro mundo real. Passam pela rua em direção ao portão, as três em silencio: pequena, boneca e avó. Ganha um afago novamente e segue em direção ao ônibus. O sol se despede, o mundo segue normal, pessoas reais entram no ônibus, marmitas, ferramentas, olhares tristes e cansados. É escuro e frio, quando a menininha de boneca velha e vestido amarrotado volta pra casa, no mundo real.
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