domingo, 22 de agosto de 2010

Hoje de novo

Ela vai descer do ônibus no ponto de sempre
Vai andar um quarteirão até chegar em casa
Vai abrir o portão de modo silencioso
Deixar o tênis na porta da sala
Ela vai dar um beijo na testa da avó, que assiste TV na sala
Vai seguir o barulho de máquina de costura até achar a mãe num quarto mal iluminado
Dar um abraço por trás e ganhar um afago na nuca
Seguir até a cozinha, um prato em cima da panela espera por ela
Não, só o café, sozinha na mesa da cozinha
Café morno e olhar pro nada
Ela vai entrar no banheiro
Ligar o chuveiro
Despir-se
Vai sentir a água cair forte sobre a testa
Vai abaixar a cabeça
Vai chorar
Vai chorar copiosamente
Vai sufocar o grito
Ela sempre morre no final do dia.

Nenhum comentário:

Postar um comentário